skip to Main Content

Tontura pode ser algo grave?

Infelizmente pode.
E o João foi a minha prova viva. As nossas vidas se cruzaram numa segunda-feira de maio de 2016, eu estava iniciando os estudos de otorrinolaringologia. João estava finalizando um fim de semana assustador.
Eu fui sua médica residente no pronto socorro, e você não sabe como precisei BRIGAR com outra médica nesse dia para que João tivesse o diagnóstico e tratamento adequados.
Quando olhei para ele já vi: ele não conseguia sorrir, nem fechar os olhos e nem enrrugar a teste. Uma paralisia assim completamente da face normalmente indica que o nervo está danificado. Mas seu João foi premiado com a má sorte.
Só que esse não foi o motivo que o fez ir ao PS. Ele, na verdade, procurou atendimento por causa de um tontura pra caminhar que sentia há 2 dias! Sentia-se instável e não conseguia ficar em pé e caminhar direito. Nem havia reparado que o rosto não mexia direito – estava tão assustado com a tontura!
Ao examinar João, notei diversas alterações estranhas compatíveis com um problema numa região do cérebro. E sabe na medicina não tem coincidências, viu? Não era possível que ele tivesse um problema no cérebro e no nervo ao mesmo tempo. Uma outra doença explicava as duas coisas: um AVC.
Encaminhei seu João para a equipe da clínica médica, afinal otorrinos não tratam AVC. Porém não deu 30 minutos, João estava de volta na porta do consultório com a médica chefe da equipe da clínica dizendo que não sabia examinar e insistia que aquele quadro era coisa de otorrino: era labirintite!
Meu chefe no dia, um dos maiores mestres que tive, fincou o pé no chão e disse: naninanão. A médica por fim cedeu e levou o paciente para realizar uma tomografia que mostrou um AVC isquêmico em cerebelo.
João se recuperou completamente graças a Deus!
E eu? Revisitei a maior lição que a medicina me ensinou: brigue com quem for pelo seu paciente, você é a maior esperança dele num pronto atendimento.
De quebra recebi segunda lição: nem toda paralisia completa da face é problema no nervo, olhe o paciente sempre como uma pessoa e não órgãos e sistemas separados!

Back To Top
f