skip to Main Content

Tontura ao levantar da cama: já ouviu falar dos cristais soltos no labirinto?

Atendi recentemente uma paciente com uma tontura simples de tratar, quero te contar a história, quem sabe você não se identifica.
Era uma mulher de 47 anos que há 4 dias ao levantar da cama sentia o quarto rodar. A primeira vez era domingo, acordou com a filha pulando na cama, levantou-se e viu seu quarto rodar completamente.
O roda-roda passou rápido mas depois veio uma sensação esquisita no estômago e na cabeça, parecia meio “aérea” para caminhar e com um leve enjoo.
Passou o dia mais sentada sem se esforçar demais com o medo da tontura voltar. Mas o roda-roda não voltou até a hora deitar na cama. E aí veio com tudo, ela caiu na cama vendo o teto mexendo rapidamente… e da mesma forma rápida que surgiu também foi embora bem rapidamente.
Foi dormir pensando que a quarentena deixou ela meio zonza mesmo… Afinal quem não esta?
Acordou no dia seguinte sem nada. Levantou e caiu no chão com tudo rodando de novo. Voltou a se deitar e ficou o resto do dia na cama.
E isso se repetiu até o dia que me procurou e nos conhecemos. Essa história que ela me contou… é daquelas de livro que parece que ela leu os sintomas certinho. Mas nem sempre é assim!
As vezes a percepção de cada um e até mesmo sua forma de contar dificultam de desvendar a causa da “labirintite”.
Essa “labirintite” tem nome, segundo nome, sobrenome da mãe e do pai. Chama-se Vertigem Posicional Paroxística Begnina, mas pros íntimos pode chamar de VPPB.
Vertigem vem de sentir o “roda-roda”, posicional de posicionamento mesmo.. dessa história de o roda-roda surgir na hora que deita na cama e levanta da cama. Paroxística vem do sintoma causar uma tontura que vai aumentando até um pico máximo e aí diminui até sumir. Benigna porque é do bem. E porque existe uma similar “do mal”.
VPPB é a mais frequente doença dos labirintos. É caracterizada por episódios curtos de tontura rotatória (vertigem) recorrente desencadeada pela movimentação da cabeça.
Pode vir acompanhada de sintomas como vômitos e náuseas, coração acelerado, palidez e mal-estar.
Ocorre porque fragmentos de são cristais de cálcio que ficam aderidos a uma região do nosso labirinto se deslocam para os canais do labirinto.
Temos 3 canais no labirinto e esses cristais podem migrar para qualquer um desses canais. Os sintomas são os mesmos independente do canal, porém o tratamento não, esse muda a depender do canal em que estão os cristais.
Para diagnosticarmos essa doença não precisamos de nenhum exame específico além do exame físico.
Realizamos algumas manobra (que é um tipo de posicionamento corpo-cabeça) como a manobra de Dix-Hallpike ou manobra de Head Roll onde observamos um movimento dos olhos – e descobrimos qual canal que esta afetado.

Por favor não tentem isso do vídeo em casa, pode ser bem perigoso.

Esse é um vídeo do youtube (não é de minha autoria) demonstrando uma das manobras para diagnóstico e possíveis movimentos oculares – de acordo com o movimento sabemos qual canal é acometido e então como tratar.

Tratamos também com uma manobra, que é uma forma de reposicionar e levar os cristais de volta para o local em que eles deveriam esta. A manobra depende do canal em que se encontram os cristais então não é a mesma para todo mundo e por isso a avaliação precisa é bem importante.

Mas preste atenção: eles voltarem para o lugar que deveriam estar não quer dizer que continuem lá depois.

Os cristais ficam grudadinhos a uma gelatina e após a manobra levam cerca de 48-72h para aderirem novamente a gelatina, por isso após o reposicionamento ainda é possível sentir sintomas tipo instabilidade e devemos reavaliar o paciente em alguns dias após o reposicionamento.

Além disso precisamos investigar porque os tais cristais desgrudaram da gelatina em primeiro lugar. Para isso sim precisamos de exames.

Não é só tratar com manobra e “tchau”. A cada dia em que aprendemos mais sobre a VPPB, vemos como é um sintoma de algo maior e sua relação com outras doenças do labirinto!

Ela pode ser decorrente a infecção ou inflamação do labirinto, ou a uma inflamação do nervo relacionado ao equilíbrio, pode ser também por um problema no próprio cristal que é feito de cálcio e depende da vitamina D e do metabolismo do nosso cálcio.

Percebemos também que pessoas com doenças do labirinto como Meniere e Migrânea Vestibular parecem ter uma propensão maior a terem a VPPB.

Outra causa comum para tal é trauma, na verdade, essa é uma das principais causas para a VPPB: após bater a cabeça.

A VPPB também esta a associada a doenças vasculares que levam a uma irrigação pobre do labirinto – traduzindo: chega pouco sangue a gelatina onde estão os cristais,  isso facilita eles de se soltarem.

Uma dessas doenças é a hipertensão arterial sistêmica.

Se você teve isso ou conhece alguém que teve não deixe para lá após a resolução da tontura, muita coisa sobre a sua saúde pode ser descoberta de um episódio de tontura que parece ser simples.

Se tiver dúvidas sobre essa doença, mande nos comentários, email ou lá pelo instragram @danijanolli.

O tratamento ideal deve ser individualizado e definido após uma avaliação médica criteriosa. Consulte um especialista em Doenças do Labirinto.

Back To Top
f