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Vertigem Posicional Paroxística Benigna: a tonntura dos cristais soltos do labirinto

Vertigem Posicional Paroxística Benigna: a tontura dos cristais

Já sentiu uma tontura intensa ao se levantar da cama, como se o ambiente girasse ao seu redor? Já experimentou um breve “roda-roda” ao fazer um movimento simples com a cabeça? Se sim, talvez esteja familiarizado com a Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) – também conhecida popularmente como tontura dos cristais soltos.

Esse tipo de tontura pode surgir repentinamente e causar grande desconforto, mas, felizmente, existe tratamento eficaz para aliviar esses sintomas e devolver a segurança aos movimentos do dia a dia.

Introdução

A vertigem é a sensação de movimento sem que haja de fato um deslocamento. Pode ser descrita como uma sensação de oscilação, inclinação, giro ou perda de equilíbrio.

Devido à variação de descrições, é comum que a vertigem seja agrupada no termo “tontura”, uma queixa frequente, porém imprecisa, que leva milhões de pessoas anualmente aos serviços de emergência. A “tontura” pode abranger uma ampla gama de sensações, o que pode confundir o diagnóstico. A vertigem pode ter origem vestibular periférica (ou seja, relacionada ao labirinto ou nervo) ou vestibular central (relacionada ao cérebro ou cerebelo).

A Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) é a causa mais comum de vertigem de origem periférica, correspondendo a mais da metade dos casos. Estima-se que pelo menos 20% dos pacientes com queixas de vertigem apresentem VPPB. No entanto, essa porcentagem pode estar subestimada, pois a VPPB é frequentemente diagnosticada de forma incorreta. Distinguir a VPPB de outras causas de vertigem é essencial, pois o diagnóstico diferencial inclui desde condições benignas até doenças graves.

O médico especialista deve buscar compreender exatamente o que o paciente sente, incentivando-o a descrever suas sensações sem o termo “tontura”, uma vez que essa expressão pode ser vaga e confusa.

Causas da Vertigem Posicional Paroxística Benigna

A VPPB ocorre quando as otocônias (os famosos “cristais”- que na verdade é uma “areia” de carbonato de cálcio) se soltam de sua posição normal no centro do labirinto, uma região do ouvido interno. Esses cristais são essenciais para o equilíbrio, ajudando a aceleração que a cabeça é submetida.

Vertigem Posicional Paroxística Benigna: Otocônias | Dra. Daniela Janolli
Otocônias

No entanto, quando se deslocam para os canais semicirculares (estruturas que também fazem parte do labirinto), causam desequilíbrio ao reagirem com o movimento da cabeça. Assim, atividades simples como olhar para cima ou para baixo, mudar de posição na cama ou inclinar a cabeça podem fazer com que esses cristais ativem o nervo de equilíbrio, levando à vertigem e ao nistagmo (movimento involuntário dos olhos).

Em muitos casos, especialmente entre idosos, a VPPB ocorre sem uma causa específica. No entanto, existem alguns fatores que podem desencadear um episódio de VPPB, como:

  • Traumatismo craniano, leve ou grave;
  • ⁠Permanência da cabeça na mesma posição por muito tempo (por exemplo, no dentista, no salão de beleza ou em repouso prolongado);
  • Andar de bicicleta em terrenos acidentados;
  • Exercícios de alta intensidade;
  • Outras doenças do ouvido interno, como labirintite viral, neuronite vestibular, doença de Ménière e hipertensão arterial sistêmica.;
  • Doenças vasculares;
  • Doenças metabólicas como hipotireoidismo;
  • Alterações hormonais como a menopausa;
  • ⁠Deficiência de vitamina D*.

Epidemiologia

A VPPB é mais frequente entre 50 e 70 anos de idade, embora possa ocorrer em qualquer faixa etária. Em pessoas com menos de 35 anos, geralmente está associada a algum tipo de trauma na cabeça. No Brasil, estima-se que a incidência seja de aproximadamente 200 mil novos casos por ano.

Fisiopatologia

Para entender a VPPB, é importante compreender a anatomia dos canais semicirculares (CSC) do ouvido interno, onde os cristais desajustados provocam sintomas de vertigem ao interferirem no movimento normal do fluido que preenche esses canais. O deslocamento dos cristais dentro dos CSC pode causar uma sensação de movimento inconsistente com o movimento real da cabeça, resultando na sensação de vertigem.

Vertigem Posicional Paroxística Benigna: a tontura dos cristais

Quais são os sintomas da Vertigem Posicional Paroxística Benigna?

Pessoas com VPPB experimentam vertigem (sensação de giro) sempre que há uma mudança na posição da cabeça. Esses episódios podem ser intensos e causar perda de equilíbrio, aumentando o risco de quedas e acidentes. A vertigem pode vir acompanhada de coração acelerado, palidez, mal-estar, náuseas e, em alguns casos, vômito.

Além da vertigem associada a movimentos da cabeça, muitas pessoas com VPPB relatam uma sensação constante, porém leve, de instabilidade entre os episódios. A VPPB pode surgir de forma abrupta e assustadora, levando as pessoas a pensar que estão gravemente doentes. No entanto, o diagnóstico médico de VPPB costuma ser reconfortante, pois é uma condição tratável.

Diagnóstico e Exame Físico

Uma história detalhada e exame físico são fundamentais para avaliar a vertigem. O teste de Dix-Hallpike é o padrão-ouro para diagnosticar VPPB (vídeo abaixo), desencadeando nistagmo rotatório característico ao mover o paciente rapidamente de uma posição sentada para uma posição deitada com a cabeça a 45 graus. Esse exame é o único com relevância clínica significativa para a VPPB.

Atenção: Por favor não tentem fazer essa manobra em casa, pode ser bem perigoso.

Tratamento da Vertigem Posicional Paroxística Benigna

Manobras de Reposicionamento para VPPB

O primeiro passo no tratamento da VPPB é educar e orientar o paciente. Em casos de VPPB no canal posterior, o uso de manobras de reposicionamento, como a manobra de Epley, é altamente recomendado. Essa sequência de movimentos ajuda a deslocar os otólitos para fora dos canais semicirculares, aliviando os sintomas.

Além da manobra de Epley, outras técnicas igualmente eficazes tratam a VPPB, variando conforme a localização dos cristais no ouvido interno. Por exemplo, a manobra de Semont, realizada com rapidez e com o paciente deitado de lado, decerto é indicada para casos no canal semicircular posterior.

Analogamente, a manobra de Foster, também conhecida como “meia cambalhota,” oferece uma alternativa prática que o próprio paciente pode fazer em casa, facilitando o reposicionamento dos cristais. Por sua vez, a manobra de Brandt-Daroff ajuda a aliviar os sintomas quando outros métodos não trazem alívio completo, acostumando o sistema vestibular e reduzindo a sensibilidade à tontura.

Por fim, a manobra de Barbecue Roll, que envolve girar o corpo em 360 graus, primordialmente trata casos de VPPB no canal semicircular horizontal. Entretanto, todas essas técnicas devem ser realizadas com orientação profissional para evitar complicações.

Medicamentos, em geral, não são indicados para a VPPB, exceto em casos de náuseas e vômitos intensos, onde podem podem ajudar.

Cuidados e Recomendações no Tratamento da VPPB

Vale ressaltar que, após o reposicionamento, os cristais ainda precisam de 48 a 72 horas para aderirem novamente à substância gelatinosa no ouvido. Nesse período, o paciente pode sentir uma leve instabilidade, e uma reavaliação após alguns dias é recomendada.

Os cristais podem se deslocar para qualquer um dos 3 canais do labirinto afetado, é importante um profissional adequado que saiba avaliar em qual canal as partículas estão para realizar a manobra adequada.

Não é recomendável que o paciente realize a manobra de reposicionamento por conta própria, pois ele pode não saber identificar qual manobra é a mais adequada para seu caso. Além disso, a manobra envolve riscos e deve ser feita com cuidado, especialmente em pacientes idosos e em pessoas com aterosclerose na carótida (placas de gordura na artéria carótida), pois o movimento pode desprender uma dessas placas e resultar em um AVC.

Ademais, existe o risco de ocorrer uma situação chamada “canalith jam“, em que as partículas se aderem e bloqueiam um dos canais, causando uma crise intensa de tontura acompanhada de náuseas, vômitos, mal-estar e sudorese. Nesses casos, uma manobra específica é necessária para aliviar os sintomas.

Prognóstico e Complicações

A VPPB costuma apresentar remissão espontânea em poucas semanas ou meses, embora as recorrências não sejam incomuns. Estudos indicam que cerca de 30% dos pacientes com VPPB pode experimentar novos episódios ao longo dos anos. A maioria das pessoas responde bem às manobras de reposicionamento.

Orientações ao Paciente

Embora a VPPB possa ser desconfortável, ela decerto não é uma condição que ameaça a vida. Assim, explicar ao paciente o prognóstico favorável e a eficácia das manobras de reposicionamento igualmente ajuda a reduzir a ansiedade e o medo de complicações graves. Ainda assim, mesmo com um tratamento eficaz, é importante que o paciente esteja ciente de que os sintomas podem retornar e que, nessa eventualidade, deve procurar orientação médica para novos ajustes no tratamento.

O tratamento ideal deve ser individualizado e definido após uma avaliação médica criteriosa. Consulte um especialista em Doenças do Labirinto.

FAQ

1. O que causa a vertigem posicional paroxística benigna?

A VPPB é causada pelo deslocamento de pequenos cristais de cálcio (otocônios) no ouvido interno, que se movem para locais inadequados nos canais semicirculares. Isso interfere na percepção de movimento, provocando vertigem.

2. Qual a diferença entre VPPB e labirintite?

A VPPB é uma vertigem causada pelo deslocamento de cristais no ouvido interno, enquanto a labirintite é uma inflamação do labirinto, geralmente associada a sintomas como vertigem, perda de audição e zumbido.

3. Como melhorar a vertigem posicional paroxística benigna?

Manobras de reposicionamento, como a manobra de Epley, ajudam a realocar os cristais e aliviar os sintomas. O acompanhamento com um profissional de saúde é importante para um tratamento seguro e eficaz.

4. Como fazer os cristais do ouvido voltarem para o lugar?

As manobras de reposicionamento, realizadas por um especialista, guiam os cristais de volta ao seu local correto no ouvido interno. Evite tentar essas manobras sem orientação médica, pois há riscos envolvidos.

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