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Migrânea Vestibular: Um Panorama Completo

Migrânea Vestibular: Um Panorama Completo

A Migrânea Vestibular (MV) é uma condição frequentemente subdiagnosticada, caracterizada por episódios recorrentes de vertigem ou tontura, associados a fenômenos enxaquecosos.

Este texto aborda em detalhes o mecanismo da doença, critérios diagnósticos, exames complementares, diagnósticos diferenciais, sintomas e variações de apresentação, além de discutir os tratamentos disponíveis.

Fisiopatologia

A MV tem uma base genética familiar e está relacionada ao sistema trigeminovascular (STV), que envolve áreas do cérebro responsáveis pelo equilíbrio e estímulos sensoriais. A ativação desse sistema pode ser desencadeada por fatores como alterações hormonais, estresse, desidratação e mudanças ambientais. Esse processo, aliás, gera uma excitação anormal no sistema nervoso central (SNC), chamada de depressão alastrante, que se inicia na região visual do cérebro.

Essa depressão alastrante, por sua vez, resulta na liberação de neurotransmissores, como o glutamato, que ativam células nervosas e provocam a liberação de mediadores inflamatórios, como ácido araquidônico e óxido nítrico. Esses mediadores ativam regiões sensoriais das meninges, causando, assim, dor e inflamação.

Além disso, a ativação do STV afeta a irrigação da orelha interna, resultando em aumento do fluxo sanguíneo e extravasamento de substâncias químicas, o que pode comprometer tanto o equilíbrio quanto a audição. A disfunção na via vestibulo-tálamo-cortical, com o tálamo atuando como um centro crucial de integração sensorial, também contribui para os sintomas auditivos e de equilíbrio observados na MV.

Diagnóstico

O diagnóstico da Migrânea Vestibular é, essencialmente, clínico, baseado na avaliação detalhada dos sintomas e na exclusão de outras condições. Os principais critérios diagnósticos incluem, primeiramente, a presença de uma história de enxaqueca, com ou sem aura, além de episódios recorrentes de vertigem que, por sua vez, não se enquadram em outras doenças vestibulares.

Os sintomas vestibulares podem incluir sensação de giro, flutuação ou desequilíbrio, acompanhados ou não de manifestações neurovegetativas, como náusea e sudorese. O diagnóstico também exige a exclusão de outras causas vestibulares e neurológicas, como a doença de Ménière ou a vertigem posicional paroxística benigna (VPPB).

Critérios Diagnósticos para a Migrânea Vestibular

Migrânea Vestibular Definitiva

Para o diagnóstico da Migrânea Vestibular Definitiva, o paciente deve ter pelo menos cinco episódios de tontura de intensidade moderada ou severa, com duração entre 5 minutos e 72 horas.

Além disso, o histórico atual ou anterior de migrânea deve estar presente, e pelo menos uma característica migranosa, abaixo, deve ocorrer em mais de 50% dos episódios vestibulares:

  • Cefaleia com pelo menos duas das seguintes características:
    • Localização unilateral
    • Qualidade pulsátil
    • Intensidade da dor moderada ou severa
    • Agravamento por atividade física rotineira
    • Fotofobia e fonofobia
    • Aura visual

Migrânea Vestibular Provável

Já na Migrânea Vestibular Provável, o paciente apresenta pelo menos cinco episódios com sintomas vestibulares de intensidade moderada ou severa, com duração entre 5 minutos e 72 horas. Mas apenas quando um dos critérios completos de migrânea é atendido, como a história de migrânea ou características migranosas durante o episódio.

Para assegurar o diagnóstico correto da Migrânea Vestibular, é essencial, portanto, excluir outras possíveis causas de vertigem e desequilíbrio. Condições vestibulares e neurológicas, como a doença de Ménière, vertigem posicional paroxística benigna (VPPB), ataques isquêmicos transitórios e paroxismia vestibular, devem ser cuidadosamente consideradas e descartadas.

Dessa forma, garante-se que os sintomas apresentados pelo paciente, como vertigem e desequilíbrio, não sejam melhor explicados por outro diagnóstico vestibular, confirmando, assim, a Migrânea Vestibular como a causa provável dos sintomas.

Observações

Os sintomas vestibulares na Migrânea Vestibular incluem vertigem espontânea (sentida internamente ou externamente), vertigem desencadeada por movimentos da cabeça ou mudanças de posição, e vertigem visualmente induzida, acompanhada de náusea.

A gravidade dos sintomas pode ser moderada, interferindo nas atividades diárias, ou severa, impossibilitando-as. A duração dos episódios é bastante variável: 30% duram minutos, 30% horas, 30% dias, e 10% duram segundos, com múltiplas ocorrências em situações específicas.

Exames Complementares

Os exames da função vestibular, em geral, apresentam resultados normais ou difíceis de interpretar durante os períodos intercríticos. Entretanto, em alguns casos, observa-se hiperreflexia vestibular no exame otoneurológico, como na vectonistagmografia. No entanto, esses achados não são essenciais para o diagnóstico. Além disso, nistagmos espontâneos ou posicionais podem ser encontrados em determinados pacientes.

Embora não existam exames específicos para diagnosticar a MV, exames complementares podem ser necessários para descartar outras possíveis causas de vertigem.

Diagnósticos Diferenciais

A MV pode se sobrepor a várias condições otoneurológicas, tornando o diagnóstico desafiador. As principais condições a serem consideradas incluem:

  • Doença de Menière
  • Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB)
  • Cinetose
  • Mal de Desembarque
  • Paroxismia Vestibular
  • Ataque Isquêmico Transitório
  • Vertigens de Origem Psiquiátrica

É crucial considerar a história clínica e os sintomas associados para distinguir MV de outras condições.

Sintomas e Facetas

Os sintomas da Migrânea Vestibular podem variar amplamente, tanto em intensidade quanto em duração. A vertigem é um sintoma comum, caracterizado pela sensação de giro, flutuação ou desequilíbrio, que pode ser espontâneo ou posicional. A tontura, por sua vez, manifesta-se como uma sensação de instabilidade, surgindo em diferentes situações.

Sintomas auditivos como sensação de pressão no ouvido ou ruído (zumbido) e perda auditiva neurossensorial também podem ocorrer, sendo mais prevalentes em frequências graves ou agudas.

Entre os sintomas migranosos, destaca-se a cefaleia pulsátil, frequentemente unilateral, e a aura visual ou não visual, que pode incluir distúrbios visuais como pontos luminosos ou sintomas não visuais, como formigamento. Os pacientes também podem apresentar hipersensibilidade à luz, sons e odores, além de distúrbios cognitivos, como dificuldade de concentração, e sintomas neurovegetativos, incluindo náusea, vômito e sudorese.

Tipos de Apresentação

A MV pode apresentar diferentes formas:

  1. Vertigem Paroxística Benigna Infantil: História de vertigem na infância.
  2. Vertigem Migranosa Tardia: Em mulheres na menopausa, anos após a redução das crises de cefaleia.
  3. Tontura Sem Cefaleia: Vertigem como uma manifestação isolada, sem a presença de cefaleia.

Tratamentos para a Migrânea Vestibular

O tratamento da Migrânea Vestibular é multidisciplinar e envolve mudanças no estilo de vida, reabilitação vestibular e o uso de medicamentos. Além disso, identificar e evitar gatilhos alimentares, como cafeína e alimentos ricos em sódio, pode ajudar a reduzir a frequência dos episódios. A prática regular de atividades físicas, quando possível, também contribui significativamente para o controle dos sintomas.

A reabilitação vestibular, que inclui fisioterapia para melhorar o controle postural e a adaptação vestibular, é indicada em casos de cinetose associada. No entanto, essa abordagem deve ser cuidadosamente considerada, já que alguns pacientes podem apresentar intolerância.

O tratamento medicamentoso inclui o uso de medicações abortivas, como anti-inflamatórios e antivertiginosos, para aliviar as crises. Além disso, medicamentos profiláticos, como venlafaxina, nortriptilina, topiramato e propranolol, são usados para prevenir crises recorrentes. Pesquisas em andamento avaliam o uso de anticorpos monoclonais no tratamento da MV, oferecendo, assim, novas perspectivas terapêuticas.

Considerações Finais

A MV é, portanto, uma condição complexa que requer uma abordagem cuidadosa e individualizada. Além disso, a sensibilidade dos pacientes migranosos vestibulares a medicamentos frequentemente exige ajustes nas dosagens.

Com um plano de tratamento personalizado, que considere a história clínica e os sintomas de cada paciente, resultados terapêuticos eficazes podem ser alcançados. Ademais, a pesquisa contínua é essencial para compreender melhor os mecanismos fisiopatológicos subjacentes e, assim, desenvolver estratégias de tratamento mais eficazes.

O tratamento ideal deve ser individualizado e, principalmente, definido após uma avaliação médica criteriosa. Consulte um especialista em Doenças do Labirinto.

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