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Mal do Desembarque: causas, diagnóstico e tratamento
O Mal do Desembarque (MD) é uma condição clínica que ocorre após uma pessoa passar por longos períodos de viagem em embarcações, como navios ou barcos, e que se caracteriza por um conjunto de sintomas relacionados à sensação de desequilíbrio.
Apesar de ser frequentemente associado a viagens marítimas, o MD pode ocorrer em qualquer situação que envolva um movimento contínuo, como viagens de avião, trem ou carro. Este transtorno pode ser debilitante, afetando a qualidade de vida de quem o vivencia, sendo essencial compreender suas causas, sintomas, diagnóstico e tratamentos.
Conteúdo
Fisiopatologia do Mal do Desembarque
A fisiopatologia do Mal do Desembarque envolve uma desregulação no sistema responsável pela percepção do equilíbrio. Isso acontece especialmente nos órgãos que garantem a estabilidade postural, como o labirinto no ouvido interno e os sistemas visual e proprioceptivo.
Durante uma viagem, o movimento contínuo das ondas ou qualquer outra situação de movimento constante estimula esses sistemas. Como resultado, o cérebro passa a interpretar o equilíbrio de maneira alterada, adaptando-se à nova condição da embarcação.
Quando a viagem termina, entretanto, o cérebro e o sistema vestibular podem continuar processando esses estímulos de forma incorreta, permanecendo adaptados à sensação de movimento. Por consequência, surgem sintomas como tontura, mareamento, instabilidade, sensação de balanço e movimento, mesmo já em terra firme.
O processo subjacente ao Mal do Desembarque sugere, portanto, uma “adaptação” inadequada do sistema vestibular ao movimento, que persiste mesmo após a interrupção dos estímulos. Dessa forma, quando o corpo deixa de estar exposto ao movimento constante, o sistema nervoso pode continuar enviando sinais incorretos, gerando a sensação persistente de movimento. Essa desorganização neurossensorial constitui o principal fator para os sintomas característicos do Mal do Desembarque.
Além disso, outros fatores como predisposição genética, menopausa, flutuações hormonais, ansiedade e características específicas da viagem (como duração e intensidade do movimento) podem influenciar tanto a ocorrência quanto a gravidade dessa condição.
Sintomas
Os sintomas do Mal do Desembarque são variados, sendo mais frequente a sensação persistente de que o corpo continua em movimento mesmo após desembarcar da embarcação. Os principais sinais incluem:
- Sensação de “balanço” ou “flutuação”, mesmo fora da embarcação.
- Tontura ou vertigem.
- Desconforto ao se mover, como dificuldade para caminhar em linha reta ou manter o equilíbrio.
- Náuseas e, em alguns casos, vômitos.
- Ansiedade associada à sensação de desequilíbrio.
- Melhora temporária dos sintomas ao retornar a ambientes com movimento passivo, como estar dentro de um carro. Este é um sintoma especialmente característico do Mal do Desembarque.
Esses sintomas geralmente duram de algumas horas até semanas. Contudo, em casos mais graves, podem persistir por meses, gerando significativo desconforto.
Diagnóstico do Mal do Desembarque
O diagnóstico do Mal do Desembarque é principalmente clínico, fundamentado na história relatada pelo paciente, que geralmente inclui uma viagem recente com exposição contínua a movimentos. Contudo, para confirmar o diagnóstico ou descartar outras condições com sintomas semelhantes, alguns exames e avaliações podem ser solicitados:
- Anamnese detalhada: Primeiramente, é essencial coletar informações completas sobre o histórico médico do paciente, incluindo detalhes sobre a viagem e os sintomas observados após o desembarque.
- Exame físico e neurológico: Em seguida, o médico avalia reflexos, equilíbrio e movimentos oculares, visto que o Mal do Desembarque pode interferir no funcionamento do sistema vestibular.
- Testes vestibulares: Estes testes têm como objetivo avaliar o funcionamento do sistema vestibular. Entre eles, o teste de calor (calorímetro) e o VNG (video nistagmografia) são frequentemente usados para verificar se o sistema vestibular está funcionando adequadamente. Podem ou não ser solicitados na avaliação de um paciente com sintomas de MD para exclusão de outras doenças.
- Ressonância magnética (RM) ou tomografia computadorizada (TC): Embora normalmente não sejam necessários para o diagnóstico do MD, esses exames eventualmente podem ser realizados caso haja suspeita de outras condições que afetem o equilíbrio, como tumores ou lesões do sistema nervoso.
- Teste de estabilidade postural: Finalmente, esse exame pode avaliar a resposta do paciente a diferentes estímulos sensoriais, ajudando a entender melhor a extensão dos sintomas e a capacidade de equilíbrio.
Critérios para diagnóstico
Os critérios diagnósticos para a doença são:
- Sensação persistente de movimento na ausência real desse estímulo (vertigem não rotatória), descrita como uma percepção oscilatória ou de balanço presente de forma contínua ou na maior parte do dia.
- Início dos sintomas dentro das primeiras 48 horas após o término da exposição a um movimento passivo, como uma viagem.
- Alívio temporário dos sintomas quando há nova exposição ao movimento passivo. Por exemplo, a tontura melhora durante um trajeto de carro e retorna ao sair do veículo.
- Persistência dos sintomas por mais de 48 horas. Em outras palavras, é normal que o corpo leve até 48 horas para readaptar-se ao desembarque, mas sintomas que ultrapassem esse período são considerados indicativos do transtorno.
- Os sintomas não são melhor explicados por nenhum outro transtorno (faz-se necessário o diagnóstico diferencial com outros transtornos como Tontura Postural Perceptual Persistente, Migranea Vestibular, Hipofunção vestibular e Cinetose).
Tratamento do Mal do Desembarque
O tratamento do Mal do Desembarque varia conforme a intensidade dos sintomas e o impacto que causam na qualidade de vida do paciente. As opções terapêuticas incluem:
- Tratamento medicamentoso: Medicamentos podem ser prescritos para aliviar os sintomas. Antivertiginosos, como a cinarizina ou meclizina, frequentemente são eficazes no controle da vertigem. Além disso, antieméticos, como a domperidona, podem ajudar a reduzir náuseas e vômitos.
- Terapia vestibular: Essa abordagem consiste em exercícios específicos voltados para a reabilitação do sistema vestibular, auxiliando o paciente a recuperar sua percepção normal de equilíbrio. A fisioterapia vestibular pode diminuir consideravelmente os sintomas de desequilíbrio e melhorar a estabilidade postural.
- Tratamento psicológico: Muitas vezes, ansiedade e estresse podem intensificar os sintomas do MD. Terapias como a gestão do estresse e psicoterapia cognitivo-comportamental demonstram ser úteis no manejo dessas questões, proporcionando alívio significativo.
- Outros tratamentos: Em casos raros, quando os sintomas persistem mesmo após as abordagens convencionais, antidepressivos ou anticonvulsivantes podem ser utilizados. Esses medicamentos possuem um efeito modulador sobre o sistema nervoso central, contribuindo para a redução dos sintomas.
Considerações finais
O Mal do Desembarque é uma condição rara que pode impactar significativamente a vida de quem a vivencia, sobretudo devido à sensação persistente de desequilíbrio.
É fundamental compreender a fisiopatologia, realizar um diagnóstico correto e aplicar o tratamento adequado. Assim, torna-se possível aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Portanto, a avaliação por um profissional médico especializado na área do equilíbrio é indispensável.
O tratamento individualizado, que pode incluir medicação, terapia vestibular e apoio psicológico, mostra-se eficaz na maioria dos casos. Ademais, como ocorre em qualquer transtorno médico, o acompanhamento contínuo é essencial para garantir o controle ou a resolução dos sintomas, promovendo o bem-estar do paciente.
O tratamento ideal deve ser individualizado e definido após uma avaliação médica criteriosa. Portanto, consulte um especialista em Doenças do Labirinto.