A doença costuma se instalar após crises de tontura por outras doenças do labirinto, ou após alguma outra doença que gerou estresse e ansiedade ou até mesmo após uso de medicações.
Doença de Ménière: conheça esta condição rara
Conteúdo
Introdução
Talvez você tenha se autodiagnosticado com a doença de Ménière através do Google ou recebido esse diagnóstico de um profissional mal-informado. No entanto, é importante saber que essa doença é muito rara, e diagnósticos incorretos são bastante comuns.
Provavelmente, uma combinação de fatores genéticos e ambientais desencadeia a doença de Ménière, resultando em um acúmulo excessivo de líquido nos canais do ouvido interno. Para uma explicação mais detalhada, assista ao vídeo:
O que é a Doença de Ménière?
O acúmulo de líquido nos compartimentos do ouvido interno, chamados labirinto, causa em grande parte os sintomas da doença de Ménière. O labirinto, por sua vez, contém tanto os órgãos do equilíbrio (os canais semicirculares e os órgãos otolíticos) quanto os da audição (a cóclea).
Ele é composto por duas seções: o labirinto ósseo e o labirinto membranoso. O labirinto membranoso, por outro lado, é preenchido com um fluido chamado endolinfa, que, nos órgãos de equilíbrio, estimula os receptores à medida que o corpo se move. Esses receptores, então, enviam sinais ao cérebro sobre a posição e o movimento da cabeça. Na cóclea, o fluido é comprimido em resposta às vibrações sonoras, o que, consequentemente, estimula as células sensoriais a enviarem sinais ao cérebro.
Na doença de Ménière, o acúmulo de endolinfa no labirinto interfere no equilíbrio normal e nos sinais auditivos entre o ouvido interno e o cérebro, causando vertigens e outros sintomas da doença.
Quais são os sintomas da Doença de Ménière?
É comum pensar que o diagnóstico da doença de Ménière é feito por meio de exames, mas, na verdade, é baseado nos sintomas apresentados.
Nos primeiros anos da doença de Ménière, os sintomas geralmente ocorrem em crises. Essas crises começam com uma sensação de ouvido entupido, com ou sem zumbido, e podem ser seguidas por vertigem. O início dos sintomas é variável: há aqueles que iniciam a doença com uma perda auditiva súbita, outros que, nos primeiros anos, apresentam apenas uma mudança no volume em que escutam ou uma sensação de pressão no ouvido e zumbido, e, após algum tempo, desenvolvem as crises de tontura. Existem também aqueles que inicialmente apresentam crises de tontura e, posteriormente, manifestam os sintomas auditivos.
A duração das crises pode variar entre 20 minutos e 24 horas. Zumbido e sensação de perda auditiva podem ocorrer mesmo fora dos episódios de vertigem.
Com o avanço da doença ao longo dos anos, as crises tendem a diminuir em frequência, mas pode haver perda auditiva permanente e um tipo diferente de instabilidade que persiste, geralmente ocorrendo ao movimentar a cabeça ou caminhar.
A doença de Ménière pode se desenvolver em qualquer idade, mas é mais comum em adultos com idades entre 40 e 60 anos. É uma doença que pode afetar um ou ambos os ouvidos (em 30% dos casos, afeta os dois ouvidos).
Outros sintomas que podem ocorrer, embora não sejam tão comuns, incluem: incômodo (intolerância a sons), tontura desencadeada por sons ou pressão, e quedas com a sensação de ser puxado para o chão (Drop-attack ou Crise Otolítica de Tumarkin).
Por que as pessoas desenvolvem a doença de Ménière?
Várias teorias tentam explicar a causa da doença de Ménière, mas ainda não há uma resposta definitiva. Alguns pesquisadores acreditam que constrições nos vasos sanguíneos, semelhantes às que causam enxaquecas, podem resultar na doença.
Outros sugerem que infecções virais, alergias ou reações autoimunes podem causar a doença de Ménière. Além disso, como a doença parece ocorrer em famílias, é possível que variações genéticas desempenhem um papel, causando anormalidades no volume ou na regulação do líquido endolinfático.
Como é feito o seu diagnóstico da Doença de Ménière?
Um otorrinolaringologista, especialista em doenças do labirinto, geralmente diagnostica e trata a doença de Ménière. No entanto, não há um teste definitivo ou um sintoma único que permita ao médico realizar o diagnóstico.
O diagnóstico é baseado no histórico médico do paciente e nos seguintes critérios relacionados aos sintomas:
- Duas ou mais crises de vertigem, com duração entre 20 minutos e 24 horas.
- Sintomas auditivos flutuantes, como perda auditiva, zumbido ou sensação de ouvido entupido.
- Perda auditiva neurossensorial de frequência baixa a média, documentada em exame de audição em pelo menos uma ocasião antes, durante ou após um dos episódios de vertigem, não explicada por outra condição.
Observe que, entre esses critérios, o exame de audição realizado durante a crise é o único exame necessário.
Exames para auxiliar o diagnóstico
Como o critério final indica, é essencial descartar outras causas. Para isso, utilizamos exames de sangue que ajudam a excluir condições que podem simular a doença de Ménière, como hipotireoidismo, infecções, doenças autoimunes e doenças metabólicas.
Além disso, o exame otoneurológico (ou vectonistagmografia) avalia o funcionamento dos labirintos e sua conexão com o cérebro, o que auxilia na exclusão de outras condições.
Por outro lado, a eletrococleografia (ECoG) é um exame que detecta o aumento da pressão do líquido nos labirintos, conhecido como hidropisia. Entretanto, é importante ressaltar que outras doenças também podem causar hidropisia; portanto, a presença desse aumento não confirma, necessariamente, o diagnóstico de Ménière.
Da mesma forma, um resultado negativo para hidropisia não exclui a possibilidade de doença de Ménière, uma vez que os sintomas podem ocorrer apenas durante os episódios de aumento da pressão.
Existe relação entre a doença de Ménière e a enxaqueca?
Na enxaqueca vestibular, a perda auditiva flutuante, o zumbido e a sensação de ouvido entupido podem ocorrer, mas, geralmente, a enxaqueca não causa uma perda auditiva significativa. Quando a enxaqueca vestibular leva à perda auditiva, ela tende a afetar ambos os ouvidos, enquanto o envolvimento bilateral desde o início é raro na doença de Ménière.
Embora os mecanismos exatos que conectam as duas condições ainda não sejam totalmente compreendidos, evidências sugerem uma possível ligação.
Como é o tratamento da Doença de Ménière?
A doença de Ménière ainda não tem cura, mas pode-se recomendar alguns dos seguintes tratamentos para ajudá-lo a lidar com a condição:
Medicamentos
O sintoma mais incapacitante de um ataque da doença de Ménière é a tontura. Você pode aliviar a tontura e encurtar a duração do ataque com medicamentos prescritos, como dimenidrinato, flunarizina, cinarizina, meclizina e benzodiazepínicos.
Restrição de sal e diuréticos
Limitar o consumo de sal na dieta e tomar diuréticos, pode ajudar algumas pessoas a controlar a tontura, reduzindo a quantidade de líquido que o corpo retém. Essa medida pode diminuir o volume e a pressão do líquido no ouvido interno; no entanto, a evidência científica para essa abordagem é baixa.
Aumento da ingestão de água
Utilizando-se no mínimo de 0,35ml de água a cada kilo do paciente.
Betaistina (Labirin, Betina, Betaserc, entre outros)
É o medicamento de tratamento inicial, cujas doses podem variar.
Outras mudanças dietéticas e comportamentais
Você deve evitar ou limitar a ingestão excessiva de cafeína, chocolate e álcool, uma vez que esses alimentos e bebidas pioram os sintomas. Reduzir a quantidade desses itens na dieta pode ajudar a aliviar os sintomas. Além disso, o estresse pode atuar como um grande gatilho para as crises; portanto, é crucial gerencia-lo adequadamente. Por fim, recomenda-se praticar atividades físicas regularmente para auxiliar no controle dos sintomas.
Hidroclorotiazida
É um medicamento que pode ser utilizado, porém tem baixa evidência em literatura científica.
Injeção de corticoide intratimpânico
Ela é reservada para pacientes com dificuldade de controle das crises de tontura com tratamento medicamentoso padrão.
Injeção intratimpânica de gentamicina
Essa abordagem é reservada para pacientes que enfrentam perda auditiva significativa e têm dificuldade em controlar as crises de tontura com o tratamento medicamentoso padrão.
Cirurgia
A cirurgia pode ser recomendada quando todos os outros tratamentos falharem em aliviar a tontura. Em tais casos, os médicos podem optar por procedimentos cirúrgicos, como a descompressão do saco endolinfático. Além disso, outra opção cirúrgica é a secção do nervo vestibular, embora essa abordagem seja menos comum.
Reabilitação vestibular
Utilizado quando há redução do funcionamento do labirinto.
Reabilitação auditiva com aparelhos auditivos
Sempre utilizada quando há perda auditiva.
É possível ter qualidade de vida?
Muitos pacientes veem a doença de Ménière como uma sentença de sofrimento, mas, em muitos casos, você pode controlar as crises e evitar a necessidade de procedimentos cirúrgicos. Com um bom acompanhamento, você pode gerenciar os sintomas de forma eficaz.
Procure um otorrinolaringologista para estabelecer uma parceria no tratamento. É importante que o profissional compreenda não apenas os sintomas, mas também conheça você como indivíduo, para assim formular o melhor plano de tratamento.
O tratamento ideal deve ser individualizado e definido após uma avaliação médica criteriosa. Consulte um especialista em Doenças do Labirinto.