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Zumbido e o que buscamos quando o investigamos – a entrevista médica.

Esse é o sintoma mais “místico” da medicina: quando se trata de zumbido, a medicina ainda engatinha na sua compreensão, investigação e tratamento.
Tenha sempre isso em mente, porque “exames normais” não significam que o seu zumbido não tem uma causa.
Muitas vezes a avaliação não foi detalhada o suficiente (nossas hipóteses para a causa desse sintoma surgem em sua maioria da entrevista que fazemos com o portador) ou os exames ainda não são avançados o suficiente para entender o zumbido completamente.
As ferramentas da medicina são falhas, infelizmente. Então se você ouvir “seus exames estão normais, você não tem nada”, procure outro profissional pra te ajudar porque não é bem assim não!!
Numa consulta sobre esse sintoma, o profissional avalia e procura as seguintes coisas(já saiba essas informações quando for procurar um especialista para te ajudar):
Entender como é o som que você ouve: é um apito? um chiado? pulsa como seu coração? é no mesmo ritmo que seu coração? é um som agudo/fino ? ou grave/grosso? Frequentemente vamos pedir para você imitar o som pra gente ou te apresentar alguns sons para avaliar qual o mais próximo.
Há quanto tempo você sente o zumbido?
O zumbido é o tempo todo ou vai e volta? E se vai vai e volta existe alguma condição que faça ele surgir? (por exemplo eu tenho zumbido por disfunção da articulação temporomandibular, meu zumbido é intermitente e só aparece quando tenho apertamento).
Quais os fatores de melhora, piora ou de mudança no seu zumbido? Entender gatilhos como um som específico que piora o zumbido, ou dor de cabeça/pescoço/articulação, piorar com aumento da frequência cardíaca ou com estresse, piorar com o jejum e melhorar com a alimentação, piorar com algum alimento específico (álcool, café, chá, chocolate, abuso de açúcar). Algumas pessoas ouvem múltiplos sons e esses podem variar, então avaliamos se algo desencadeia a mudança do timbre do zumbido
Repare que essas duas últimas perguntas podem ser coisas que você nunca prestou atenção antes, e talvez numa primeira consulta não identifique nenhum fator.
Por isso podemos usar uma ferramenta que é o “diário do zumbido” em que quando há mudança ou aparecimento do zumbido anotar fatores como sono, estresse, alimentação, atividade física, exposição ao som, sintomas associados (tontura, dores de cabeça) e também por isso o diagnóstico poder ser demorado.
Uma das maiores dificuldades que tenho com os pacientes é a busca por uma explicação imediatista, mas as vezes o diagnóstico demora e não simples e evidente pois depende MUITO das informações que você traz na consulta.
Quando o zumbido começou? Tem um horário específico do dia que aparece? Se ele vai e volta tem uma frequência? Está associado a TPM, menstruação, gravidez ou temporalmente como alguma outra doença diagnosticada?
O zumbido é em um ouvido ou nos dois? Existe a possibilidade também de se perceber o zumbido na cabeça e não nos ouvidos. Se é nos dois ouvidos, tem algum lado que é pior?
Qual a nota para o seu zumbido? Quanto ele te incomoda? Normalmente aplicamos alguns questionários (entre a primeira/segunda consulta) para avaliar o sintoma objetivamente, como uma forma de “medir”!
Existe história de exposição a ruído na sua vida? Profissional ? No lazer (fones de ouvido, baladas, shows)
Você tem outros sintomas associados ao zumbido?

  • Tontura (e aí precisamos saber essa tontura bem detalhadas – tempo de duração, como é o tipo da tontura, se ela aparece sozinha, se tem fatores de melhora e piora diferentes do zumbido)
  • Dor de ouvido ? O ouvido vaza? Existe história de perfuração do tímpano? Ou de algum trauma no ouvido e cabeça? Já passou por alguma cirurgia de ouvido? Apresentava ou apresenta infecções de ouvido de repetição? E aí em caso de qualquer sintoma positivo precisamos detalhar esse sintoma também.
  • Sente dificuldade na audição ou para entender o que é falado? Desde quando? Começou devagar ou foi de uma vez?
  • Tem algum problema no nariz? (o nariz e o ouvido tem uma relação muito importante e problemas nasais podem também levar a zumbido), aí detalhamos a entender em si o sintoma no nariz para identificação da doença (rinite, sinusite, desvio de septo, disfunção da tuba auditiva – o canal que liga nariz e ouvido)
  • Dores de cabeça? Zumbido está relacionado a doenças neurológicas como aumento da pressão do liquor no cérebro, enxaqueca e outras. Se presente precisamos entender como é o tipo da dor (aperto, lateja/pulsa?), em que região da cabeça, fatores de melhora e piora dessa dor, os sintomas associados a dor: visuais, enjoo, aura
  • Sensação de ouvido entupido – tipo descendo subindo a Serra. Esse sintoma aparece quando problemas nasais estão envolvidos, aparece também quando a disfunção da articulação temporomandibular esta envolvida e na Síndrome de Meniere.
  • Dor no pescoço/ músculos cabeça e pescoço ? bruxismo? apertamento? disfunção da ATM?
  • Como é o seu sono, sua alimentação, sua rotina, como é seu dia a dia emocional? Como são suas relações familiares? E o seu trabalho? Em que você trabalha? Como são suas relações com as pessoas que você trabalha? Você esta satisfeito com seu dia a dia? Quais as suas dificuldades atuais? Esta se sentindo realizado na vida? Como é sua personalidade – ansioso, perfeccionista? Introvertido, extrovertido, desligado, esquecido?

Como esta sua memória?
Você possui outras doenças? Diabetes? Problemas de tireoide? Alteração no Colesterol? Problemas no coração? Alteração na pressão? Doenças neurológicas? Depressão ? Ansiedade
Quais medicações que usa todos os dias? E quais usa eventualmente ? Alguns antidepressivos podem piorar o zumbido ou até mesmo causar, assim como alguns antibióticos e antiinflamatórios podem causar dano ao ouvido.
O seu zumbido tem relação com algum evento específico? Perda de alguém próximo? Uma cirurgia? Uma internação? AVC? começou após alguma medicação? Alguma notícia estressante? Pós mergulho, show ou trauma ?
Em que áreas da sua vida o zumbido te atrapalha? Para essa avaliação costumo usar o questionário THI que aborda diversos aspectos da vida em que o zumbido é conhecido por atrapalhar e classificamos o grau do zumbido (isso ajuda a entender se o tratamento tem ajudado em algum aspecto da vida da pessoa, nos retornos o mesmo questionário é aplicado)
Na família tem história de perda auditiva ? Quem ? Com que idade aconteceu? Há história de zumbido ou tonturas? Alguém usa aparelho auditivo?
Essas são as questões da entrevista e conversa da consulta. Da pra ver que é uma consulta super detalhada, demorada e bem específica. Vou contar no próximo post sobre o exame físico e exames que costumamos solicitar na investigação.

O tratamento ideal deve ser individualizado e definido após uma avaliação médica criteriosa. Consulte um especialista em Doenças do Labirinto.

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