O Mal do Desembarque (MD) é uma condição clínica que ocorre após uma pessoa passar por longos períodos de viagem em embarcações, como navios ou barcos.

Neurite Vestibular: Sintomas e tratamentos para a vertigem súbita
A Neurite Vestibular (NV) é uma condição médica que provoca uma inflamação súbita, geralmente unilateral, do nervo vestibular, responsável por transmitir os sinais sensoriais do equilíbrio do ouvido interno ao cérebro.
Esse transtorno está entre as principais causas de vertigem aguda relacionada ao labirinto e pode ser facilmente confundido com outras condições vestibulares, como doença de Menière, migrânea vestibular ou acidente vascular cerebral (AVC). Embora debilitante, a NV possui um prognóstico favorável, sendo que, com o diagnóstico correto e o tratamento adequado, a maioria dos pacientes se recupera progressivamente ao longo do tempo.
Conteúdo
Fisiopatologia da Neurite Vestibular
A neurite vestibular ocorre devido a uma inflamação aguda do nervo vestibular, responsável por transportar informações do labirinto do ouvido interno para o cérebro, ajudando na percepção do equilíbrio. O labirinto detecta a posição e os movimentos da cabeça, enviando informações ao cérebro, possibilitando movimentos coordenados entre visão e equilíbrio. A inflamação provoca perda parcial ou total da função vestibular de um dos lados, comprometendo esse reflexo.
Pesquisadores acreditam que infecções virais, como as respiratórias e o herpes, desencadeiam a inflamação da neurite vestibular, embora a causa exata ainda não esteja totalmente esclarecida. Fatores autoimunes também podem estar envolvidos, embora essa relação ainda não esteja bem definida. Normalmente, o transtorno afeta apenas um lado do sistema vestibular.
Sintomas
A principal manifestação da neurite vestibular é a vertigem intensa e súbita, que geralmente ocorre sem aviso prévio e pode durar dias. Os sintomas mais comuns incluem:
- Vertigem intensa e aguda: Sensação de que o ambiente está girando ou de perda de equilíbrio, geralmente piorando com os movimentos da cabeça.
- Náuseas e vômitos: Frequentemente associados à vertigem intensa.
- Desequilíbrio: Dificuldade para caminhar ou manter a postura ereta.
- Ausência de perda auditiva: Ao contrário de outras condições vestibulares, como a doença de Menière e um possível AVC, a neurite vestibular não costuma afetar a audição.
- Sintomas agravados por movimentos da cabeça: Como em outras condições vestibulares, os movimentos rápidos da cabeça tendem a piorar a sensação de vertigem.
O cérebro se adapta gradualmente à perda de sinal vestibular, fazendo com que os sintomas diminuam ao longo de semanas. Eles costumam ser mais intensos nas primeiras 24 a 48 horas após o início da doença.
Diagnóstico da Neurite Vestibular
Os médicos diagnosticam a neurite vestibular com base na história clínica e nos sintomas do paciente, podendo recorrer a exames complementares para excluir outras possíveis causas da vertigem e confirmar a condição.
Alguns dos exames mais utilizados incluem:
- Anamnese clínica detalhada: O médico realiza uma avaliação minuciosa da história do paciente, considerando o início súbito da vertigem, ausência de perda auditiva e duração dos sintomas.
- Exame físico e neurológico: Inclui a avaliação do equilíbrio, reflexos e coordenação motora, auxiliando na diferenciação entre vertigem central (cérebro) e periférica (sistema vestibular), sendo a neurite vestibular uma condição periférica. Essa etapa é fundamental para diferenciar a neurite vestibular de outras condições, como o AVC, especialmente nas primeiras 48 horas, período em que exames de imagem como tomografia e ressonância magnética podem ainda ser normais no AVC.
- Teste de calor (calorímetro): Consiste na introdução de água quente ou fria no ouvido para avaliar a resposta vestibular. Na neurite vestibular, geralmente ocorre diminuição ou ausência de resposta no lado afetado. Contudo, esse teste não costuma ser utilizado durante as primeiras 2-3 semanas da doença.
- Ressonância magnética (RM) do cérebro: É um exame importante para excluir outras causas, como tumores cerebrais ou AVC, especialmente em casos persistentes ou atípicos. Embora geralmente não mostre alterações específicas para neurite vestibular, a RM auxilia no diagnóstico diferencial.
- Exames audiológicos: Embora não haja perda auditiva na neurite vestibular, exames audiológicos podem ser realizados para confirmar a integridade auditiva, ajudando a diferenciar a condição de doenças como a doença de Menière.
- Video Head Impulse Test: É especialmente relevante na fase aguda, permitindo avaliar se todo o nervo vestibular ou apenas parte dele foi comprometido, ajudando a diferenciar se o padrão é periférico (neurite vestibular) ou central (AVC). É útil repetir o exame após o tratamento para acompanhar a recuperação.
Tratamento da Neurite Vestibular
O tratamento da neurite vestibular visa controlar os sintomas de vertigem e acelerar a recuperação do paciente, já que o cérebro precisa compensar a perda parcial da função do nervo vestibular. Embora a recuperação completa ocorra naturalmente ao longo do tempo, intervenções específicas podem proporcionar alívio dos sintomas e maior conforto durante o processo de recuperação.
Medicamentos
- Antivertiginosos: Medicamentos como cinarizina, flunarizina ou meclizina podem ser prescritos para aliviar sintomas de vertigem, reduzindo a intensidade da tontura e prevenindo náuseas e vômitos. Benzodiazepínicos como diazepam e clonazepam também podem ser utilizados nessa fase aguda.
- Corticosteroides: Prednisona ou outros corticosteroides podem ser indicados em certos casos para reduzir a inflamação e auxiliar na recuperação do nervo vestibular, embora a evidência científica para seu uso seja limitada.
- Antieméticos: Medicamentos como a ondasetrona e metoclopramida podem ser usados para controlar náuseas e vômitos associados à vertigem.
Quanto menor tempo de uso de antivertiginosos mais rápida é a recuperação do paciente.
Reabilitação vestibular
A fisioterapia vestibular desempenha um papel essencial no tratamento da neurite vestibular. Os exercícios específicos ajudam o cérebro a compensar a função vestibular perdida e restaurar progressivamente o equilíbrio do paciente.
Esses exercícios envolvem movimentos específicos da cabeça e do corpo, treinando o sistema nervoso central para se adaptar às alterações sensoriais. Fonoaudiólogos e fisioterapeutas realizam essa terapia após indicação médica, sendo que o início precoce da reabilitação acelera consideravelmente a recuperação do paciente.
Tratamentos de suporte
Para pacientes com sintomas severos, pode ser necessário o uso de medicamentos adicionais para aliviar dor ou ansiedade. Ademais, educar o paciente sobre a neurite vestibular e assegurar um ambiente seguro, prevenindo quedas, são aspectos essenciais do tratamento.
Durante a fase aguda da doença, ocorre tipicamente tontura rotatória intensa. Entretanto, se não houver tratamento adequado, ou se o paciente utilizar antivertiginosos por períodos prolongados ou apresentar condições metabólicas como diabetes descontrolado ou hipotireoidismo, pode ocorrer dificuldade na compensação cerebral.
Por consequência, o paciente pode evoluir com instabilidade, especialmente agravada por movimentos da cabeça, por caminhar no escuro ou em superfícies irregulares, como areia fofa. Além disso, existe o risco de desenvolvimento da Tontura Postural Perceptual Persistente associada à neurite vestibular.
Diagnósticos diferenciais da Neurite Vestibular
A Neurite Vestibular pode ser confundida com outras condições que afetam o equilíbrio e causam vertigem. Alguns dos principais diagnósticos diferenciais incluem:
Acidente Vascular Cerebral (AVC)
Semelhanças: O AVC pode causar vertigem e desequilíbrio, especialmente quando afeta o tronco encefálico, que é responsável pela coordenação do equilíbrio.
Diferenças: Contudo, o AVC geralmente é acompanhado por déficits neurológicos focais, como fraqueza muscular, alterações na fala, perda de sensibilidade ou perda auditiva súbita associada. A neurite vestibular não apresenta esses sintomas adicionais, manifestando-se principalmente como vertigem. Exames de imagem, como tomografia ou ressonância magnética, ajudam a diferenciar as duas condições, porém, nas primeiras 48 horas após o início dos sintomas, esses exames podem ser normais em casos de AVC. Nesse período, o principal recurso diagnóstico é o exame físico, realizado pelo médico no pronto atendimento, focado especialmente na avaliação do reflexo vestíbulo-ocular.
Doença de Menière
Semelhanças: Ambas as condições podem causar vertigem intensa e desequilíbrio.
Diferenças: A principal diferença é que, na doença de Menière, os episódios de vertigem são geralmente acompanhados por perda auditiva e zumbido, sintomas ausentes na neurite vestibular. A vertigem da neurite vestibular se manifesta de forma contínua nos primeiros dias e melhora progressivamente, enquanto a da doença de Menière ocorre em episódios prolongados.
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Labirintite
Semelhanças: Ambas as condições envolvem inflamação do sistema vestibular e causam vertigem.
Diferenças: Entretanto, a labirintite caracteriza-se pela inflamação ou infecção tanto do labirinto quanto da cóclea (estrutura responsável pela audição), resultando em perda auditiva associada à vertigem. Já na neurite vestibular, não há comprometimento auditivo. O diagnóstico diferencial é feito com base na avaliação clínica dos sintomas audiológicos, exames auditivos e exame otoscópico. Caso o paciente apresente sinais de otite, por exemplo, o diagnóstico provável será de labirintite.
Tumores Vestibulares (Schwannoma Vestibular)
Semelhanças: Tumores no nervo vestibular podem causar sintomas semelhantes aos da neurite vestibular, como vertigem e desequilíbrio.
Diferenças: Contudo, tumores vestibulares geralmente apresentam um início gradual dos sintomas, acompanhados frequentemente por uma perda auditiva progressiva ao longo do tempo. O diagnóstico diferencial é confirmado por meio de ressonância magnética com contraste, que identifica claramente a presença de um tumor no nervo vestibular.
Distúrbios Psicológicos (Ansiedade, Hipocondria)
Semelhanças: Distúrbios psicológicos também podem levar a sintomas de vertigem, especialmente quando o paciente está sob estresse ou ansiedade.
Diferenças: Entretanto, a vertigem relacionada a distúrbios psicológicos tende a ser menos intensa, mais intermitente e geralmente associada a um histórico claro de estresse emocional. Em contraste, a neurite vestibular provoca uma vertigem aguda e contínua, normalmente sem fatores psicológicos evidentes. Exame físico detalhado e testes vestibulares específicos ajudam a diferenciar essas condições.
Considerações finais
A inflamação do nervo vestibular causa a neurite vestibular, uma condição comum que provoca vertigem súbita e intensa. Apesar do início alarmante e sintomas desconfortáveis, o prognóstico geralmente é positivo, sendo comum a recuperação completa dos pacientes ao longo do tempo.
Portanto, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, envolvendo medicamentos e fisioterapia vestibular, são essenciais para uma recuperação eficaz e para minimizar o impacto dos sintomas na qualidade de vida do paciente.
O tratamento ideal deve ser individualizado e definido após uma avaliação médica criteriosa. Portanto, consulte um especialista em Doenças do Labirinto.